sábado, abril 02, 2011

MPB E O BRASIL DOS SÉCULOS XX E XXI


Século XX. O País deixara para trás o modelo monárquico (1808) e o modelo escravagista (1888). Inaugura-se o modelo republicano (1889). O novo século se inicia sob a luz dos preceitos republicanos e positivistas.

No início do século chega a Casa Edison e a música se faz presente no novo projeto da indústria fonográfica brasileira (1902), com o pioneiro e tcheco Frederic Figner.

Os anos 1910 tentam trazer a modernidade européia. O final da década de 1920 acabou marcando também o final da República Velha. Muita mudança, muita agitação e muita novidade. Tanta que tornou obsoleto o modelo anterior de País. (LUSTOSA)

Veio a crise de 1929, com o Crack da Bolsa de Nova York, e que abalaria o mundo capitalista. Não sem que antes tivéssemos a entrada em cena do rádio no Brasil. Inaugurado oficialmente em 1922, em discurso proferido pelo então presidente Epitácio Pessoa, durante as comemorações do centenário da Independência (1822).

Tínhamos, em termos midiáticos, até então, apenas a imprensa (1808), a indústria editorial (1808), a indústria fonográfica (1902) e o cinema (1876) – embora ainda incipiente e mudo – e que só passaria a falar a partir de 1927, no filme “O cantor de Jazz”, protagonizado por Al Johnson.

O desenvolvimento do rádio no Brasil passa a ocorrer exatamente ao mesmo tempo em que Getúlio Vargas sobe ao poder e nele permanece por anos. Muitos anos.

Não é novidade alguma dizer que, a exemplo de outros políticos de renome mundial de sua época, entre eles Roosevelt, Mussolini e Hitler, Vargas se apropria do rádio para estabelecer-se no poder e ao mesmo tempo realizar uma imagem única de identidade nacional brasileira.

Isso tudo acaba coincidindo com o início do estabelecimento do cinema brasileiro e da chamada “era de ouro do rádio” e, certamente, da música popular gravada, obviamente atrelada ao avanço técnico do rádio e dentro de um modelo desenvolvimentista e altamente pessoal da gestão Vargas.

Não é casual, também, uma maior aproximação do governo americano do brasileiro, por razões estratégicas, já que o modelo socialista, desde 1917, período pós I Guerra Mundial, vinha avançando consideravelmente mundo afora, inclusive em Cuba.

Assim, exportamos Carmen Miranda e eles nos devolveram Zé Carioca – personagem de Disney – criado para selar os “afetuosos laços de amizade” entre ambas as nações.

Temos, nesse período, além da “era de ouro do rádio”, a “era da chanchada” no cinema, cujos símbolos máximos foram os atores cômicos Oscarito e Grande Otelo.

No segundo governo de Vargas, já nos anos 1950, temos a chegada da TV (Tupi São Paulo), por obra do empresário Assis Chateaubriand.

Ao mesmo tempo, buscavam-se as novas formas de modernidade, com a Bossa Nova, um novo estilo musical que, primordialmente, negava a era de ouro do rádio e seus cantores estriônicos, ao mesmo tempo em que tentava estabelecer uma nova tendência musical, mais cool, mais alinhada ao gosto americano, misto de samba-canção e jazz. E não foi para menos que o novo gênero recebeu apupos dos puristas da canção. (CAMBRAIA NAVES).

Tudo no Brasil era novo, a partir de 1955 com Juscelino Kubitschek. O presidente anterior era o “Velho”. A Bossa era Nova. E o presidente era “bossa nova”.

Inaugura-se Brasília (1960) ao mesmo tempo em que a televisão passa a invadir os lares com sua programação para a classe média, que era quem tinha o dinheiro necessário para comprar o então tão caro aparelho de recepção de TV.

Isso muda a partir de meados dos anos 1960, com a entrada em cena da chamada “direita”, do milagre econômico e do crediário a perder de vista que vingam com o Golpe Militar de 1964.

O Golpe ou a Revolução – como preferiam os militares (31/03/1964) - destitui João Goulart, vice que assumira no lugar de Jânio Quadros, presidente eleito em 1961, e que renuncia em favor de seu vice – Jango – muito visado por conta de sua simpatia pela esquerda.

Jânio era conhecido por suas atitudes polêmicas. Como prefeito de São Paulo proibira o rock'n'roll na cidade e como presidente visitara Fidel Castro – ditador de esquerda - que acabara de estabelecer-se no poder a partir da mesma época, com o auxílio, entre outros, do guerrilheiro Che Guevara.

Kubitschek, Jânio e Jango já nos deixaram. Che foi assassinado. Fidel continua comandando a ilha de Cuba, na mais longa ditadura de todos os tempos.

O gênero musical MPB entra em cena exatamente nesta época – a partir dos festivais de música de 1965.

O golpe de 1964, que era para ser igualmente breve, ficou 30 anos no poder. Foi sucedido pela Nova República de Sarney, pela renúncia de Fernando Collor de Melo, pela “república do pão de queijo” de Itamar Franco, pelo catedrático Fernando Henrique Cardoso e sua reeleição contestada por denúncias de compras de votos.

Em 1990 entraram em cena a MTV e a televisão por assinatura. Em 1994 entra em cena a internet comercial no Brasil.

Século XXI: entra em cena Lula presidente e seu governo repleto de denúncias de irregularidades. Depois, Dilma Rousseff – sua sucessora – agora no poder a partir de 2011. Na presidência do Senado temos ainda o ex-presidente Sarney, que também tem sido questionado, em meio a muitas denúncias de irregularidades administrativas, mas ainda assim se mantém no poder.

E assim a vida continua .... A MPB também .... A seguir alguns desses momentos, entremeados de algumas situações da conjuntura musical internacional ....


[Trecho do prefácio do livro: Música popular no contexto da indústria midiática no Brasil: da modinha à moderna MPB]